Maria da Imaculada Conceição L. Figueiredo é engenheira civil, designer de interiores e especialista em segurança do trabalho.
Autora dos livros Playlist para poemas selvagens (Bolsa Nacional do Livro, 2016), Pandemônia (Marianas, 2020) e participante das antologias Herdeiras de Lilith (2014), Marianas (2016) e Tuíra (2022).
Também é integrante dos coletivos Marianas, Vozes Escarlate e Oceânicas. Está organizando a antologia Idade é Fogo e a obra individual Haole.
Alguns poemas da autora
Cansada
De trabalhar andar a pé lavar a louça procurar por grana por amor pela rua certa o emprego certo o cara certo sempre no momento errado
Cansada
De ironia hipocrisia puxadores de saco de carro de tapete de malícia corrupção medo cuidado invejas saudades más amizades ecologia celulares sempre funcionando no meu cérebro
Cansada
De cachaça rum vodca cerveja agua café com leite sem leite chocolate quente pipoca banana feijão pasta de dente papel caneta
Cansada de filho cachorro papagaio periquito parente amigo amor desamor descompasso desacerto desrespeito descuido
Cansada
Da minha cara no espelho da cara dele na foto da cara do cobrador do ônibus do galã da novela da piriguete do metal do cafajeste sempre na esquina esperando uma chance de cantar alguém
Cansada de você, politico politiqueiro corrupto ladrão hipocrita covarde maldito canalha fraco mentiroso vagabundo traidor burro pulha babaca
Cansada de mim insistindo em lutar trabalhar ser legal colocar o papel da bala no lixo ser fiel sincera verdadeira burra carente que acha que vai se dar bem sendo decente nesse mundo torto... (ouvindo “Comida” - Titãs)
Desperate Brazilian Housewifes
Mirem-se no exemplo
Das apertadas
Em espartilhos
E soutiens
Cordas nos pulsos
Cortados
Nos punhos
Cerrados
Nos dentes
No Cerrado.
Mirem-se
Nas sombras peroladas
Dos cílios pintados
À prova de lágrimas
De sangue nos olhos.
Mirem-se
Nos stilettos armados
Jimmy choos amados
Lobo(tomia)utins comprados
À custa de desejos
Prostituídos
Em nome da sacrossanta
Família
Do sacro Império
Do Sacro Ilíaco.
Mirem-se
Harajuku-gueixas
Matronas atenienses
A chamar outras de latrinas
Receptáculos
Do “honroso” gozo clandestino
Dos heróis
Publicados em verso e prosa
No Diário oficial Da União desgovernada.
Mirem-se
Nas que existem e estão
Embora não vistas.
Mirem-se no
Cristal-espelho
Das ricas e famosas
Donas de mil escravas
Brancas, negras, carcamanas, sertanejas
Cafusas confusas.
Pobres escondidas
Ligadas
Refugiadas.
Mirem-se
Perdoem-se
Eduquem-se
Não julguem.
Ensinem.
Elas
Não sabem o que fazem
Publicados no livro Pandêmonia, pelo Coletivo Marianas.
Das Antigas
Houve um tempo
em que os casais se amavam nas cozinhas
e crianças voavam livres e soltas pelos quintais.
Era uma vez uma terra
onde havia rios e morros
e gralhas azuis plantavam pinheirais.
Eu me lembro do vampiro rondando a gente
dançando pela rua, saindo dos recitais.
Eu juro que vi festas de São João...
quermesses e catedrais.
Havia um encanto doce
um jeito caipira
na minha Curitiba que não existe mais...
Publicado em Playlist para poemas selvagens, pela Bolsa Nacional do Livro.
Livros
Playlist para poemas selvagens (Bolsa Nacional do Livro, 2016)
Pandemônia (Edições Marianas, 2020)
Coautoria
Herdeiras de Lilith (Instituto Memória, 2014)
Folhetim dos poetas malditos (livro artesanal, 2015)
Antologia Coletivo Marianas (Anadara Brasiliana, 2019)
Nove meandros (Donizela, 2023)
Nereidas (Anadara Brasiliana, 2023)
Folimpa (Anadara Brasiliana, 2023)
Saiba mais sobre Maria Lorenci
Publicado por: Tânia d'Arc
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