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Verônica Souza

  • Foto do escritor: Coletivo Marianas
    Coletivo Marianas
  • há 7 dias
  • 3 min de leitura

Verônica Souza

Verônica Souza é escritora, leitora assídua, desenhista e atua como analista de qualidade. É formada em Análise e Desenvolvimento de Sistemas (Uninter)

e graduanda em Comunicação Organizacional (UTFPR).

Publica no Entre Verônicas, explorando memórias, vivências negras, femininas, textos literários e poesias autorais. Integra os coletivos Marianas e Pretas com Poesia. Também compartilha suas artes em @veronica.souza.p.

Alguns poemas da autora



Viagem ao interior do esquecimento

ou do acobertamento?


Ato 1


Dia de viagem

Pulo da cama sempre cedinho

quero sentir os pássaros, o ventinho das árvores

acordar com o dia que nasce

sempre sou uma das primeiras

passei a noite inquieta na cama

pensando nessa manhã

no corre-corre com bolsa, mala e lanche

no desespero e ânimo da família para viagem

penso nas paisagens aquelas lindas e verdes

abundantes que vejo indo ao interior

até esqueço dos gritos caos dos adultos

só me lembro de eu no carro

vendo paisagem, cantando, fotografando

sendo criança vendo poesia em tudo

Essas eram as manhãs

felizes e vorazes, que antecediam a viagem

ao interior

a roça

ao lugar de comida boa, vento, mato e dança

era sempre uma alegria sendo criança



Ato 2


chego lá tem vô (com acento de chapéu como a mãe ensinô,

a avó era com agulha em cima porque ela costura)

tem tia, tem prima, tem família toda

descemos no trupicar e farfalhar

cumprimentando, pedindo benção, pulando

era alegria quesó, ficávamos completos por instantes

era nossa viagem anual de ver avô no interior

chego, logo recebo beijo na testa do avô

— Benção vô, quanto tempo!!

— Oh que bonita. Essa é minha neta? (vô tinha Alzheimer, vezes lembrava de eu, vezes não – mas a gente sempre conversava)

— É, sim, Pai! Filha da Natureza (ps: minha mãe) — Comentou a tia coração


ele me dá uma boa olhada daquela que analisa até alma


— Oh que neta bonita! Para uma negrinha até que é bem bonita, puxou a família!


Segundos de silêncio na minha cabeça ainda tão pequena, entendi ou não entendi essa frase?


— E os dentes que maravilha, chegou usar aqueles negócios de metal? Ou é tudo seu?


voltando à cena sorridente, fico bem feliz, eu bonita e com dente dos bons (sempre admirei o do meu pai – retinho e brancão, tudo bem lindo)



Publicado no Instagram da autora em vídeo.





Desconhecidos cheios de (nó)s


num instante somos tão parecidos

em outro, mil anos-luz de diferenças

nós

como podemos ser tão próximos e distantes?

tão conectados e cheios de coincidências

sós


sinto saudades das memórias que não temos

receio e angústia pelas que vivemos

in-fer-no

estamos prestes a ser filha e pai, me alegro

novamente me empurra para longe, me perco

in-ver-no


o coração se enche, pelas gotas do pesar

de ter sentido a vontade de ser sua amiga

fi-lha

sempre prestes a nos conhecermos

mas, distantes demais para criar laços

i-lha


as memórias que desejo são distantes

impossíveis, inalcançáveis, intangíveis

me-lan-co-lia

são expectativas de momentos inéditos

momentos esses que não terei nem spoiler

re-ve-lia





Caneta salva-vidas


Sinto no peito o sentimento crescer

Sinto na cabeça o medo aborrecer

na pele o arrepiar do vento

na barriga o ácido gástrico girar


Sem aviso me sinto explodir

Será que não percebi o corpo implodir?

Corro até a caneta salva-vidas

Estilhaça meu coração de tinta.



Selecionado para publicação nas Edições ConVerso.

Coautoria

Suja (Donizela, 2025)

Pretas com poesia – 2ª edição (Donizela, 2025)

Saiba mais sobre Verônica Souza



Publicado por: Tânia d'Arc

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