Sandra Pinto
- Coletivo Marianas
- 25 de abr.
- 2 min de leitura

Sandra Pinto é geminiana, baby boomer, nascida em 1959, no Rio de Janeiro. Graduada em história, trabalhou no Arquivo Nacional, onde se aposentou em 2014. Após a aposentadoria, retomou o estudo de uma paixão da juventude: a psicologia de Carl Gustav Jung. Fez especialização em psicologia analítica e em arteterapia. Para a autora, poetizar é um ato de amor revolucionário, é trazer o avesso para o direito e retirar o direito do lugar comum.
Alguns poemas da autora
A vulva
qual é a forma da morte pra você?
um esqueleto carregando a foice,
Caronte, ou o astuto jogador de Bergman?
pra mim ela é uma grande vagina
a vulva da terra
válvula da vida
energética
enigmática
onde habitam as fêmeas
na hora certa rompe-se o casulo
pulsa
contrai
expulsa
Eros
de onde vim morri
o grande relógio cósmico gira
pontual
cumpre decretos
no dia certo da hora certa
a vulva te engole de volta
túnel escarlate
aveludado e úmido
o mesmo de onde viemos
nada detém sua pulsão
Tânatos
para onde for nascerei
Publicado em Semeadura, pela Editora TAUP.
Transformer
deitada a vagar
sou atraída por uma luz
a esquadrinhar formas ao longe
a geometria urbana pula nas minhas lágrimas míopes
e me orbita
da arquitetura inusitada surge uma imagem robótica
salta da cidade calada pro meu silêncio
um robô com um único olho visível e uma boca rúbea
conversa comigo
a boca do transformer é uma chaminé
a queimar em seu interior
um sem-número de palavras não ditas
calcina minha angústia
evapora as lágrimas que teimam em escorrer
sou eu mesma
nesta imagem de cimento e tijolos
estática a me observar
um olho aberto outro fechado
um que olha para fora, outro que me alcança por dentro
enxergo minha própria dialética
voo surrealista
esse é o meu mundo suprarreal
onde uma construção conversa comigo
e me reconstrói por dentro
Publicado em Semeadura, pela Editora TAUP.
Hécate
mumificada
numa fina camada de lã pardacenta
corpo inerte, mente em ebulição
viva entre meus mortos
realizei Hécate
deusa tripla
de Anatólia para o mundo
alquimista sulfúrica
a acompanhar a desintegração de corpos
e a lenta despedida das almas
resta pouco ar no casulo
resignada, aguardo.
a morte é certa,
sigo esperançando
um nova começo
o corpo, antes ávido pela vida,
agora pede pausa,
do ir e vir das partículas.
invernar, disse-me ela
germinar, sussurrou-me
nos braços de Hécate voei
pelos braços de Hécate retornarei
Publicado em 100 poetas vivos, pela Editora TAUP.
Livros
Semeadura (TAUP, 2024)
Coautoria
100 poetas vivos – Também estamos aqui (TAUP, 2024)
Saiba mais sobre Sandra Pinto
Publicado por: Tânia d'Arc
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