Armadura, um conto de Tânia d'Arc
- Daniela Amaral
- 22 de abr.
- 1 min de leitura
Atualizado: 25 de abr.

Não sei por que tanta dureza. Não que a vida tivesse sido sempre fácil, ao contrário, havia percorrido inúmeros obstáculos. Alguns pulou, noutros se estabacou. Mas também não se pode dizer que tivesse sido das mais difíceis. Teve seus confortos, desfrutou prazeres e também diversas alegrias. Mas era dura. Dura nas palavras, dura no olhar. Seu caminhar era duro.
O coração, no entanto, não. Esse era molinho e doce. Mas era dura no existir.
Eu não sei, e ela também não sabia, o porquê de tanta dureza. Poderia tentar ser diferente e de fato tentava. Por vezes, esforçava-se um bocado para impressionar na maciez. Mas era dura.
Não era dureza de alma, era apenas no modo. No modo de ser, no modo de encarar a vida. Talvez tivesse sido a melhor — ou única — forma encontrada para se manter firme. E, realmente, não caía. Mantinha-se de pé, acontecesse o que acontecesse. Não era um golpe que a derrubava.
Certos sorrisos, contudo, já foram capazes de fazê-la esmorecer. Chegou, inclusive, a desequilibrar-se nessa corda bamba que é a vida. Manteve, porém, a firmeza ereta e sábia dos que procuram continuar. Para isso, precisava ser dura. Talvez tivesse sido a forma que encontrou na vida para enfrentar o viver.
Para manter-se viva, vestiu-se de dureza. Sentia-se pesada, é verdade. Mas, ao menos, protegida (da própria vida).
Publicado no livro Entraves & entranhas.
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