Jocilene Macário da Silva (Jô Macário) é mulher preta, poeta, percussionista, cantora, compositora e cronista. Escreve desde os 12 anos, transformando sua vivência em crônicas e poesia.
É organizadora e declamadora em saraus e eventos na cidade de Curitiba e RM. Idealizadora do Coletivo Pretas com Poesia. Integra a Rede de Mulheres Negras, Roda de Samba Maria Navalha e Baque Mulher Curitiba. E foi umas das finalistas no prêmio Carolina Maria de Jesus com seu 1° livro.
Alguns poemas da autora
De cor
Aquieta sobre o som da morada
Presa escondida como cárcere
Noturna insônia a chave não tem
Sobeja a palavra para o além
Sussurram os mortos do bem
Venham,
chegam
A festa nas estrelas todos estão
Contam como é o paraíso de cada um
Choram pelo inferno que lhes conduz
“O ruim está aqui” grita outro
Ouço com desconforto
Falam sobre sua existência em vida
Os amores vividos
As dores esquecidas
Conselhos dos nobres vou anotar
As somas dos acordes tentam explicar
Em meio à gargalhadas sinto a presença na madrugada dos que foram longe
Não os vejo mais
Pergunto sobre os anjos, deus e seus encantos
Falo e não brinca o de chapéu
Digo tudinho sobre o réu
Pois diga, quero ouvir
É bonito e sem suor
Dança sobre a sorte seu jogo é a morte aos que não souberam acordar.
É vaidoso, as vezes rancoroso
Sabe tudo que estamos a falar
Traz consigo o ressentimento do expulsar
Rejeitado com a cabeça erguida traz a soma da certeza de que um dia vence a briga.
Do santo dele quero falar
É forte sobre o seio do seu trono
Escondido, mas é Orixá
Intocável em seu recanto
Quem o viu diz que é santo
Mas é Orixá
O da cor não odeia
Ama a todos e pronto
Não tem a fisionomia dos brancos
Roça a terra e planta a semente em todos os cantos
Tem um chapéu de palha
na mão uma bengala
Sorri em meio ao pranto
Parece até eu em vida
Na labuta de todos os dias
Plantava e não comia
Construía e não morava
Criava e não crescia
Pobre deus da senzala
Despedi a luz do dia
Agradeci a companhia
Voltem quando a lua voltar
Mas um sol veio e me deixou pensar
Onde um dia vou morar?
Se chama gato
Eu queria ser um gato
Um felino, um leopardo
Enxergar o oculto do além
Ser acariciado sem saber por quem
Subir altos lugares
Bocejar nas dificuldades
Ser dono das 7 vidas
Traçadas bem regidas
Ter meu lugar de necessidades sem pagar imposto
Me esconder no meio do dia sem encontros
Não precisar sorrir para ser amada
Só passar entre as pernas nas chegadas
E pedir um afago não cobrado
Viro a mulher gato segura na noite do beco
Gata preta, defesa na rua, que arranha e morde sem culpa
Pula entre as cidades e viaja no colo dos que permanecem
Se lambe, se afaga
Foge da água que afoga
Volta para o lar que a implora
Não castrada faz a aliança com marginalidade
Cria revolução dos bichanos
Confunde os que a amam
E desfila
Com seu rabo encorajado.
Terezas e Benguelas
E eu que sou negra todo dia
Negra na rua, no corre, na lida
Negra na noite e na luz da vida
Rotulada
Escrava ou a mulata
Objetificada e hipersexualidade
Não pode ser doutora
Ou pós-graduada.
Há Vozes de muitas trazendo o contrário
De Conceição Evaristo
A Megg Rayara existo
De Sueli Carneiro
A Iyagunã Dalzira resisto
Que grandes mulheres somos
Tão pequenas diz a sociedade
Somos ministras de coragem
Criando um quilombo em cada lugar
Tantas Terezas líderes de seus lares
Abandonadas pela desigualdade
Mas que regem a vida e lutam por igualdade
Olhe para o lado tem uma Benguela aí
Com olhos firmes e punho cerrado
Cabeça erguida e coração guiado
Olhe para o lado tem uma Tereza aí
A abrace e sinta a sua verdade
A abrace e sinta sua coragem
Mulher preta toda ancestralidade
Livros
Prima mulier (Donizela, 2024)
Coautoria
Poesia afro-curitibana (Humaitá, 2023)
Campoesiar (Movi, 2023)
Antologia Pretas com Poesia - organizadora e curadora (Donizela, 2024)
Saiba mais sobre Jô Macário
Publicado por: Tânia d'Arc
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